sexta-feira, 24 de janeiro de 2014
A OPTOMETRIA E MINHA IDA À DELEGACIA
Me chamaram na delegacia. Para prestar esclarecimentos a respeito da minha profissão por causa de um "possível exercício ilegal da medicina". Lá fui eu com a documentação embaixo do braço explicar que não me faço passar por médica, que sou optometrista, que tenho direito assegurado de exercer a profissão que escolhi, incluindo o direito de prescrever lentes de grau.
Houve uma denúncia, alguém fez um boletim de ocorrência, existe a possibilidade de ser aberto um processo criminal contra mim. Criminosa! Criminosa por trabalhar estando habilitada, formada, preparada.
Primeiro veio a raiva por saber que por trás de tudo isso está alguém que quer RESERVA DE MERCADO. A Optometria é uma profissão reconhecida pela Organização Mundial de Saúde, presente em mais de cem países. Cheguei na delegacia com a adrenalina a mil, mantendo a calma, explicando tudo com segurança e propriedade. O policial escrivão tratou-me com respeito e disse reconhecer que minha atividade profissional não é criminosa, mas quem decide se o processo vai ou não à frente é a delegada, que não sei quem é, não estava presente no momento do meu depoimento.
Quando a poeira baixou,inundou-me um enorme sentimento de tristeza. De volta em casa, como um filme na minha cabeça os anos que investi na formação (e ainda invisto, estou cursando uma especialização) e o dia transcorrido... O que mais me doeu foram os olhinhos assustados da minha filha quando eu contava para minha mãe que tinha que comparecer à delegacia:
- Tu vais ser presa, mamãe?
- Não, meu amor, não vou ser presa, só vou lá conversar com a polícia, mostrar meus documentos.
Se alguém pensa que isso vai me fazer desistir da profissão está muito enganado! Sou mulher guerreira e canto com Mario Lago:
"Barulho me dá cansaço,
choradeira me ingresia,
quanto menos chão pro passo
mais meu passo desafia,
se um nó me aperta e agonia,
tanto mais logo o desfaço.
Perder não doi nem me importa,
o meu pra mim voltará,
que a vida tem ida e volta
nas voltas que o mundo dá."
Depois da revolta e da tristeza o sentimento é de amor à OPTOMETRIA. E pela minha profissão lutarei até o fim! Os oftalmologistas pensam que nos assustam com atitudes como esta... Mas o que eles fazem de verdade é aumentar nosso amor e nossa vontade de lutar. Por isso eu agradeço ao "doutor" que incitou a paciente a me denunciar: me fez descobrir que meu amor pela OPTOMETRIA é muito maior do que eu imaginava que fosse.
Para minha filha o legado de que vale a pena lutar pelas causas em que a gente acredita!
- Bianca Velloso -
sexta-feira, 17 de janeiro de 2014
Lição de realidade
Dez horas da manhã. Ele chegou fedendo a cachaça... Optometrista tem que ter bom olfato. Fiquei completamente sem jeito. Não dava para fazer o exame assim. Mas como falar isso pra ele? Fiz as perguntas habituais, depois as medidas no autorrefrator e enfim depois de fazer a oftalmoscopia (o exame de fundo de olho) me enchi de coragem:
- O senhor ingeriu alguma bebida alcoólica hoje de manhã?
- É... Bem... Quer dizer... Tomei sim uma cervejinha...
- Então, será que o senhor poderia remarcar esta consulta? É que assim fica complicado, pode dar alguma alteração, entende?
- Quer dizer que pelo olho dá pra saber se a gente bebeu é!?
- É, dá sim...
- Nossa, que vergonha eu passei agora...
- Não, o que é isso, não esquenta não... Também gosto de tomar uma cervejinha de vez em quando...
- Olha, eu gostei muito da honestidade da senhora, viu? Eu volto sim! Muito obrigado!
Tem dias que não é fácil, mas é gratificante. A gente consegue compreender um pouquinho mais do mundo e da alma da(s) gente(s).
- Bianca Velloso -
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