sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Canta, Maria

Fonte da imagem: Grafias Negras 

Maria. 50 anos. Negra. Moça bonita. Faxineira, estudante e atleta. Veio da roça aos dezesseis anos, "tentar uma vida melhor". Trabalhou em casa de família. Na época não podia estudar, dormia no emprego. Nos dias de folga saía para dançar. Gafieira era é sua dança preferida, mas dança de tudo.

Sempre atenta. Humana. Humanista. "O ser humano deve ser tratado como gente", afirma. Nunca fechou os olhos para o seu direito de ser, de existir, de viver.

Quando pode voltou a estudar. Sem abaixar a cabeça para as chacotas dos colegas de aula, adolescentes. 

A rotina de Maria é assim: acorda cedo, faz faxina num clube grande da ilha capital. Vai à escola, está cursando o ensino médio. E ainda sobra energia para o treino noturno de corrida.

Fez óculos para poder enxergar as letras dos cadernos e dos livros.

Maria tem dois sonhos: trabalhar com turismo e montar uma escola de dança.

Canta, Maria. Canta e continua. Segue. Dança, que tua dança ilumina a lua. Canta e corre. Prossegue. Passo por passo. Canta que teu sonho é possível.

- Bianca Velloso

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

A OPTOMETRIA E MINHA IDA À DELEGACIA




Me chamaram na delegacia. Para prestar esclarecimentos a respeito da minha profissão por causa de um "possível exercício ilegal da medicina". Lá fui eu com a documentação embaixo do braço explicar que não me faço passar por médica, que sou optometrista, que tenho direito assegurado de exercer a profissão que escolhi, incluindo o direito de prescrever lentes de grau.

Houve uma denúncia, alguém fez um boletim de ocorrência, existe a possibilidade de ser aberto um processo criminal contra mim. Criminosa! Criminosa por trabalhar estando habilitada, formada, preparada.

Primeiro veio a raiva por saber que por trás de tudo isso está alguém que quer RESERVA DE MERCADO. A Optometria é uma profissão reconhecida pela Organização Mundial de Saúde, presente em mais de cem países. Cheguei na delegacia com a adrenalina a mil, mantendo a calma, explicando tudo com segurança e propriedade. O policial escrivão tratou-me com respeito e disse reconhecer que minha atividade profissional não é criminosa, mas quem decide se o processo vai ou não à frente é a delegada, que não sei quem é, não estava presente no momento do meu depoimento.

Quando a poeira baixou,inundou-me um enorme sentimento de tristeza. De volta em casa, como um filme na minha cabeça os anos que investi na formação (e ainda invisto, estou cursando uma especialização) e o dia transcorrido... O que mais me doeu foram os olhinhos assustados da minha filha quando eu contava para minha mãe que tinha que comparecer à delegacia:

- Tu vais ser presa, mamãe?

- Não, meu amor, não vou ser presa, só vou lá conversar com a polícia, mostrar meus documentos.

Se alguém pensa que isso vai me fazer desistir da profissão está muito enganado! Sou mulher guerreira e canto com Mario Lago:

"Barulho me dá cansaço,
choradeira me ingresia,
quanto menos chão pro passo
mais meu passo desafia,
se um nó me aperta e agonia,
tanto mais logo o desfaço.
Perder não doi nem me importa,
o meu pra mim voltará,
que a vida tem ida e volta
nas voltas que o mundo dá."



Depois da revolta e da tristeza o sentimento é de amor à OPTOMETRIA. E pela minha profissão lutarei até o fim! Os oftalmologistas pensam que nos assustam com atitudes como esta... Mas o que eles fazem de verdade é aumentar nosso amor e nossa vontade de lutar. Por isso eu agradeço ao "doutor" que incitou a paciente a me denunciar: me fez descobrir que meu amor pela OPTOMETRIA é muito maior do que eu imaginava que fosse.

Para minha filha o legado de que vale a pena lutar pelas causas em que a gente acredita!


- Bianca Velloso -

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Lição de realidade



Dez horas da manhã. Ele chegou fedendo a cachaça... Optometrista tem que ter bom olfato. Fiquei completamente sem jeito. Não dava para fazer o exame assim. Mas como falar isso pra ele? Fiz as perguntas habituais, depois as medidas no autorrefrator e enfim depois de fazer a oftalmoscopia (o exame de fundo de olho) me enchi de coragem:

- O senhor ingeriu alguma bebida alcoólica hoje de manhã?

- É... Bem... Quer dizer... Tomei sim uma cervejinha...

- Então, será que o senhor poderia remarcar esta consulta? É que assim fica complicado, pode dar alguma alteração, entende?

- Quer dizer que pelo olho dá pra saber se a gente bebeu é!?

- É, dá sim...

- Nossa, que vergonha eu passei agora...

- Não, o que é isso, não esquenta não... Também gosto de tomar uma cervejinha de vez em quando...

- Olha, eu gostei muito da honestidade da senhora, viu? Eu volto sim! Muito obrigado!

Tem dias que não é fácil, mas é gratificante. A gente consegue compreender um pouquinho mais do mundo e da alma da(s) gente(s).

- Bianca Velloso -

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Encontro, olhar e cumplicidade




"Um dia vem a vida e esfrega
a realidade na cara da gente!
Poesia não é feita
só de sonhos e fantasia
nem sempre é doce,
nem sempre é suave
pode ser grave,
pode ser dura
pode ser fria
Realidade também é poesia"

"Sentir a dor do outro
e saber que ela
é minha também,
porque é a dor do mundo
do mundo sem cor!
Descolorido mundo
Mundo doente
Se sou parte do planeta
também sinto dor.
Se não sinto nada
estou mais doente
do que o mundo!"

"Minha dor é sua
Sua dor é minha:
suador, febre, tontura...
Dor de impotência...
Dor de saber
Dor de capitalismo
Dor de desumanidade
Dor de desigualdade
Dor de individualismo
Dor de crueldade
de perversidade...
Dor... "

A mãe trazia o filho para uma avaliação optométrica, um homem, 26 anos, quase não falava, a mãe era quem conversava:

- Eu trouxe meu filho aqui porque os óculos dele estão ruins, as lentes estão arranhadas, já faz muito tempo que fez o último exame, tá reclamando da visão...

- Como está a tua saúde? Está tomando algum medicamento? - fiz as perguntas diretamente para o rapaz.

- Não é muito boa não, tenho epilepsia atípica e tomo medicamento para controle...

- E mais algum outro medicamento?

Foi a mãe quem respondeu:

- Ele vai começar a tomar todos esses medicamentos aqui, ó... E tirou uma lista de uns oito medicamentos diferentes, antidepressivos, ansiolíticos...

Fiz as anotações na ficha e prossegui o exame: olho direito tudo bem, olho esquerdo tudo bem também. Na hora de juntar os dois:

- E então, como fica com os dois juntos?

- Tá duplo!

Abaixei o grau, tirei do refrator (aquele aparelho que parece uma máscara), montei o grau na armação de prova (porque assim consigo mexer melhor no centro da lente)... Nada: a visão continuava dupla!

- Com os teus óculos a visão também é dupla?

- Sim!

- E sem óculos?

- Dupla!

- Meu filho, tu sempre vês duplo? - a mãe interferiu.

- Sim!

- E por que tu nunca me falaste isso, meu filho?

- Eu esqueço, mãe!

A mãe começou a chorar no consultório. Fiz o encaminhamento para optometria comportamental, pois este tipo de intervenção trabalha bastante com casos de visão dupla e tem bastante sucesso no tratamento.

- Vou abrir o jogo contigo, ele vai começar a tomar esses medicamentos todos porque foi diagnosticado com esquizofrenia, eu não sabia, mas ele batia com a cabeça na parede... Isso pode ter prejudicado a visão dele?

- Pode ser que seja por isso, pode ser que não... Agora o importante é a gente resolver essa questão!

- Só pra eu me preparar: é muito cara essa avaliação?

- Bom, não sei lhe dizer... A senhora tem que ligar pra lá e perguntar, sei que eles cobram um preço pela avaliação e depois, dependendo do tratamento tem outros valores...

Doeu responder aquilo. Aquela senhora estava disposta a pagar o que fosse preciso para resolver a questão do filho... Mesmo sendo gente de pouquíssimas posses...

- Se a senhora quiser eu posso acompanhar o tratamento, sou aluna deles, estou estudando optometria comportamental,  acho que não teria problema de vocês fazerem a avaliação lá e a gente continuar o tratamento aqui, se ficar mais fácil pra vocês...
- Pra nós facilitaria muito se fosse aqui... Obrigada!
- O que isso, me dá aqui um abraço - e abracei aquela senhora, com toda a cumplicidade de mãe, sem falar nada... Depois abracei o rapaz...
Emocionada, ela respondeu:
- Muito obrigada, minha filha! Acho que tu entendeste mais do que qualquer outro profissional pelos quais a gente já passou! Muito obrigada mesmo!
A compreensão da qual ela precisava: um abraço... Nada mais que um abraço!


- Bianca Velloso -

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Música na praça

Hoje não contarei causo de consulta. Falarei de um caso de amor com uma cidadezinha que me acolheu como filha. Toda semana, às quintas e sextas rodo trinta quilômetros de estrada e atendo em Palhoça, na grande Florianópolis. Nesta sexta saí de casa sem vontade, agenda vazia, precisando de grana...



Estava lá, desanimada dentro do consultório, com meu anjinho da guarda, Juliana, minha super assistente. De repente uma música invade a sala... Uma música bonita, sertanejo de raiz... Não me contive, fui até a praça em frente saber de onde vinha a música e quem era o artista que de repente encheu o dia de alegria com aquelas melodias: "Ave Maria", "Cuitelinho", "Romaria", "Tocando em frente", "Chalana"... Um caboclo simples, artista de rua, vindo de Aparecida (SP), Leon Guerreiro. Ele viaja com um grupo razoavelmente grande. Conversei rapidamente com alguns integrantes da equipe... A cena me levou para dentro de uma tela de cinema... Lembrei do filme "Gonzaga - de Pai para Filho". Tive vontade de saber mais sobre a vida dessas pessoas que levam arte de sul a norte... Já estavam deixando a cidade, eu também precisava voltar para o consultório...



O mais fantástico era perceber a reação e a expressão das pessoas que por ali passavam: quem estava com passo apressado desacelerava... Uma menininha que não tinha mais de dois anos, sentada no carrinho, embalava a cabeça seguindo o ritmo da música... Um radialista aposentado comprou alguns cds, fez pedido de música, foi atendido... Todos que pediam música eram atendidos! Um loira bonita de meia idade com uma faixa de miçangas na cabeça ganhou elogios e uma canção... Dois dentistas, de roupa branca, também pararam na calçada para escutar. Era impossível ignorar a música - patrimônio cultural de nosso país! Eu precisava registrar esta movimentação na pracinha simpática da cidade onde trabalho.



Uma senhora era a mais animada de todos, cantava junto... Saí do lugar onde estava, sentei ao lado dela, puxei conversa. Rose, cabeleireira, saiu cedo de casa para acompanhar a sobrinha nuns exames de laboratório. Disse que estava com sono e com fome, mas não conseguia sair dali, ficaria até o último momento, curtindo a música: "Isso não acontece todo dia, minha filha! A gente tem que valorizar a cultura da gente! A música é tudo na minha vida! Eu fico toda arrepiada! Sou cabeleireira, mas estudei pra música também, sei tocar violão! E essa música... É tudo! Contagia! Olha, não tem quem não goste!"



Juliana, o meu anjinho, também veio sentar ao meu lado! Até o patrão sentou conosco para escutar! Coisas que só acontecem em cidades que ainda preservam um quê de interior... Aqui em Florianópolis, a minha cidade, que também amo de paixão, isso não acontece mais...



- Bianca Velloso -

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Sobre olhos preguiçosos, novas ciências e o preço da saúde




Aos 26 anos ela foi tirar a primeira carteira de motorista e descobriu que não enxergava de um olho. O outro olho, "o bom", precisava de um pouco de grau, por isso a oftalmologista que a atrendeu prescreveu óculos. Chegou até mim porque, depois de um ano, as lentes já estavam muito arranhadas:

- Fiz uma lente boa, mas trabalho como servente, uso muito produto de limpeza, às vezes os óculos embaçam e acabo limpando na roupa mesmo... Isso danificou as lentes... Do olho direito eu não enxergo, a oftalmologista disse que não tem mais jeito, que eu precisaria ter usado tampão até os 7 anos... Eu perguntei até se não haveria cirurgia, ela disse que não, foi taxativa: "O problema que tens é irreversível!" . Perguntei o que eu tinha no olho e ela escreveu num papel: "hipermetropia e astigmatismo", só que eu acho estranho, porque pesquisei na internet e vi que para esses problemas existe cirurgia! No Detran escreveram na minha habilitação "monovisão". O que é isso exatamente?

- Hipermetropia e astigmatismo são dois "problemas visuais" que estão localizados no globo ocular. Se fosse só isso haveria tanto correção óptica quanto cirúrgica.  Acontece que o que tu tens está localizado depois do globo ocular, o problema está na comunicação entre o olho e o cérebro. Popularmente isso é chamado de "olho preguiçoso" ou "olho vago", tecnicamente chamamos de ambliopia. "Monovisão" significa que enxergas apenas com um olho.

- Nossa! Agora falaste uma coisa que faz todo sentido: eu olho para as imagens e até enxergo, mas parece que o cérebro não consegue interpretar aquilo que estou vendo!

Quando ela me disse isso fiquei toda arrepiada. Da mesma forma que a minha fala fez sentido pra ela, a dela me abriu uma janela importantíssima para o entendimento da ambliopia.

Dia desses eu escutei outro relato interessante de um homem que também descobriu ter um olho amblíope quando foi fazer a habilitação - ele usa lente de contato só no "olho ruim" (porque o "bom" não tem grau nenhum):

- Quando estou com a lente e fecho o "olho bom", demora um tempinho até que a imagem que vejo comece a se formar...

Neste caso específico concluo que a lente de contato foi vendida só para que o oftalmologista ganhasse uns trocados, porque na prática ele continua enxergando com apenas um olho.

Juntando essas informações com a leitura que fiz de alguns casos relatados no livro "O Olhar da Mente" de Oliver Sacks, fico imaginando o grande esforço neurológico que que precisa ser feito por quem possui um olho amblíope. Imagino que seja em função deste esforço que o cérebro acaba suprimindo a visão do "olho ruim".

Até pouco tempo acreditava-se que só se conseguiria estimular a visão do olho amblíope até os 7 ou 8 anos de idade. Hoje já é possível recuperar ambliopias até em adultos, através de uma ciência chamada de Optometria Comportamental (ou Neuro Optometria). É algo bem novo no Brasil. Em Florianópolis existe uma clínica especializada, com profissionais formados na Espanha.

Ao saber disso a moça ficou feliz e triste ao mesmo tempo: feliz por saber que existe solução para olhos que veem mas não conseguem enxergar e triste por constatar que dificilmente conseguirá pagar pelo tratamento.
No Brasil a saúde ainda é mercadoria! E mercadoria cara! Tem muita gente ganhando dinheiro com isso! Não é à toa que o Conselho Federal de Medicina quer impedir a entrada de médicos cubanos em nosso país! Infelizmente a Optometria tende a andar pelo mesmo caminho...
De minha parte continuarei lutando contra a mercantilização da saúde... No momento tudo o que posso fazer é ser solidária à dor de quem não pode pagar pelos cuidados que deveriam ser básicos. Estou iniciando o curso de Optometria Comportamental e quero fazer a diferença. Ainda não sei nem onde inicia esta estrada, mas tenho esperança de encontrar gente que me ajude a trilhá-la!

- Bianca Velloso -

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Atrás dos óculos



Carlos Drummond de Andrade fala no "Poema de sete faces" sobre o "homem atrás dos óculos". Vinícius de Moraes e Toquinho também cantaram este verso em "Um Homem Chamado Alfredo". Triste e bela metáfora, tão verdadeira! Quando se trabalha com a visão, essa imagem das pessoas que se escondem atrás dos óculos fica tão forte que chega a doer.

Ela entrou no consultório sem óculos, num final de manhã, quase tarde. O nome dela era comprido, difícil de dizer, formal demais para quem gosta de olhar para as pessoas bem de perto. Era evidente que ela tinha um apelido carinhoso pelo qual gostava de ser chamada.

- Como eu posso chamar a senhora?

- Pode chamar de Mariquinha mesmo!

- Que bom! E então, Dona Mariquinha, o que traz a senhora aqui, o que está acontecendo com a sua visão?

- Ah, minha filha, meus óculos quebraram! Eu não sei como, quando eu percebi já estavam quebrados! Pra falar a verdade, eu já deveria ter trocado de óculos há tempo! Mas eu não queria! Lá em casa está acontecendo muita coisa, sabe, filha? De vez em quando eu chorava e não queria dizer pra ninguém que estava chorando, então eu dizia que a lágrima escorria por causa dos óculos, que a lente estava muito arranhada, o grau fraco... Faz tempo que meu velho anda doente, com câncer de próstata... Tu és casada, né, filha, sabes como é... Desculpa falar assim, tu és novinha, mas tens cara de mulher casada...

Dona Mariquinha não me dava tempo para responder. E nem eu tinha coragem de cortá-la. Muito mais do que óculos novos ela precisava de alguém que a escutasse. Não sou casada, mas não queria contrariá-la nem desviar o foco da conversa. Assenti gesticulando com a cabeça e deixei que ela prosseguisse. Era uma história bonita. Triste, mas bonita.

- Logo em seguida vieram os problemas de coração... Ele está muito fraquinho! Nós tivemos nove filhos, um Deus levou... E se Deus levou está bem, né? Faz uns quinze dias, eu estava deitada com meu velho, assim de noitinha, de ladinho na cama. Estávamos tranquilos e eu disse para ele que a gente tinha que agradecer porque tinha passado um dia tão gostoso, sem nenhuma incomodação. Depois disso levantei para fazer uma comidinha pro jantar... Quando voltei pro quarto ele estava caído no chão, tinha infartado... Chamei os vizinhos, os filhos, o táxi e fomos para o hospital... Nessa confusão toda perdi os óculos e quando os encontrei, estavam quebrados! Tenho gastado muito de táxi, filha, meu velho está muito fraquinho, não dá para andar de ônibus com ele assim! Ainda bem que o taxista é conhecido e vai colocando na conta! Os óculos eu só posso fazer se for sem entrada! Mas eu estou muito triste, filha! Tenho setenta e três anos, meu velho tem setenta e quatro! A gente sempre se deu muito bem! E agora vê, filha, eu vou ficar viúva, eu sei que a vida dele está chegando ao fim! Vou ficar viúva cedo! Eu não quero ficar viúva cedo!

Que lindo este olhar: aos setenta e três anos Dona Mariquinha acredita que é cedo para ficar viúva! Sempre é cedo demais para quem se despede do grande amor!

- Bianca Velloso -